Quando eu era mais nova, sonhava com o dia em que usaria salto alto. Achava esplêndido o quanto aquelas mulheres da TV exalavam poder, luxo e superioridade quando calçavam tal peça, e era inevitável não imaginar o dia em que eu seria uma delas. Como a minha altura nunca foi lá grande coisa - literalmente - eu idealizava o salto como a solução para todos os meus problemas. Em minha ingênua mente, o bendito sapato me transformaria em uma princesa, e assim como nos Contos de Fadas, o destino me levaria ao esperado Príncipe Encantado. Outra idealização tola.

    Acontece que, nós crescemos e reparamos que o salto machuca o pé. Dói, arde, e causa bolhas. E além de tudo, o uso em excesso pode prejudicar até a nossa coluna. É claro que eu realmente me senti mais poderosa, luxuosa e superior usando-os, no entanto, a realidade é uma faca de dois gumes. Machucamos a nós mesmos tentando acertar o corte.

    Também não me tornei uma princesa, e muito menos encontrei meu príncipe - e por enquanto, nem quero mesmo. Descobri que o amor também aperta e machuca. Disseram-me que as feridas iniciais são comuns, tem que esperar amaciar o sapato. E o coração? Devo esperar calejar? 

    Amor, amor, amor. É lindo, adoramos no início, mas eu tiro para dançar. Porque eu não quero nada me prendendo agora. Porque meu pé está cheio de bolhas. Hoje, meu bem, eu prefiro andar descalça. 

Juliana Yume