Agora que estou morando sozinha, passei a adquirir alguns hábitos que não eram necessários antigamente. Já que é de minha responsabilidade fazer as compras do mês, tenho que sempre ficar alerta a validade dos produtos quando os compro, e continuar checando a cada vez que vou comer, para não acabar ingerindo algo estragado. Esse fato, aparentemente corriqueiro, me fez notar como alguns alimentos estragam tão rapidamente, como ainda possuem um ótimo aspecto e, devido a isso, podem ser facilmente confundidos com um produto em boas condições. Às vezes é difícil identificar o estado de um alimento só olhando seu aspecto, como por exemplo, o cereal que parece em perfeito estado, mas não está nada crocante quando comemos, o presunto e queijo que pode parecer fresquinho, o leite que, de dentro da caixa, não conseguimos notar se está estragado. E quantas outras coisas da vida já estragaram e nos passam despercebidas aos olhos?

É muito difícil identificar quando um amor acabou, ele não nos dá uma data de validade fixa, mas vai, aos poucos, nos mostrando nos detalhes mais sutis que está na hora de jogar fora. Muitas vezes nós preferimos nos enganar e fingir que não estamos vendo, por que o amor, diferente da comida, é muito difícil jogar fora. O leite que estragou eu compro outro na padaria, mas, e o amor? Onde encontrarei outro? Será mesmo que eu preciso de outro?

A gente repara quando a pessoa já não faz mais questão de te conquistar, nem mesmo de tentar agradar. Quando as horas juntas parecem se estender num tédio imenso, ou em brigas tão bobas que acabam se tornando tão sérias. A gente repara quando o beijo se torna uma obrigação e mãos já não sentem a necessidade de estarem juntas. Mas como saber se não se trata apenas de uma crise, ou do verdadeiro fim? Onde checarei a validade? Nos restam dias, anos, horas?

O amor, afinal, não precisa de uma data de validade. Ele se estraga aos poucos, ele passa a nos fazer mal. A comida estragada pode nos fazer passar mal alguns dias, mas o amor estragado, ah, esse faz um mal danado. Dores de cabeça, estresse, crises de choro, acessos de raiva. Não vale a pena insistir. Amor, quando se estraga, não dá para aproveitar nem se a gente ferver ou deixar na geladeira. Não tem volta. E não adianta chorar, pelo amor estragado.

Por Juliana Yume