Saí da casa dos meus pais já faz quase um mês. Deixei por lá os meus bichinhos de pelúcia, meus cadernos do ensino médio e minha mãe preocupada. Deixei a cidade do interior que me proporcionou as melhores lembranças, deixei os amigos que costumava ver diariamente e, mais do que tudo, deixei por lá aquela garota que costumava ter tudo na mão. 

Descobri que a vida cobra. Ela cobra na primeira conta de luz que chega e a gente não sabe o que fazer.Cobra na fome que bate quando a comidinha de mãe não vem. Cobra na roupa que suja que não se lavará sozinha. A vida cobra responsabilidade quando não há mais ninguém ali para te mandar fazer as tarefas e os trabalhos. Cobra coragem quando você se perde e não dá para ligar para a sua mãe vir buscar. Cobra atitude quando você não tem mais ninguém ali para arrumar a casa por você. E cobra, acima de tudo, amadurecimento, para saber lidar com uma nova vida, uma nova rotina, uma nova fase. 

A vida cobra controle quando a saudade bate e você só quer voltar pra casa. A vida cobra paciência quando tudo dá errado e ninguém pode resolver nada por você. A vida cobra sabedoria quando você é obrigado a tomar difíceis. A vida coloca em prova os valores que sua família lhe passou, as lições que você aprendeu na escola, o respeito seus pais lhe deram. A vida te cobra e te mostra como você realmente é quando ninguém está vendo. É surpreendente. 

Mais do que provações, a vida abre a sua mente de um jeito que você percebe que não voltará a ser como era antes. A vida cobra sim, e muito, mas ela também te livra: abre suas asas, para que você voe para onde quiser. Eu almejo voar pra bem longe mas, é claro, sem nunca esquecer o caminho de volta pra casa.

Por Juliana Yume.